Definição
Apresentação da história das teorias econômicas sobre os determinantes do comércio internacional, identificando as bases da teoria moderna de comércio.
PROPÓSITO
Compreender as bases das principais teorias modernas do comércio internacional, desde suas origens.
OBJETIVOS
Módulo 1
Reconhecer a história do pensamento econômico em comércio internacional e os conceitos de vantagens absolutas e comparativas
Módulo 2
Aplicar o conceito de vantagens absolutas e comparativas para a determinação de um equilíbrio comercial
Módulo 3
Descrever os equilíbrios de comércio no modelo ricardiano
Introdução
Neste tema, abordaremos os principais conceitos e as teorias do comércio internacional. No primeiro módulo, vamos trazer uma perspectiva histórica da evolução do comércio internacional, assim como apresentar os conceitos de vantagem absoluta e comparativa a fim de compreendermos sua existência e seu funcionamento.
No segundo módulo, determinaremos os níveis de comércio, consumo e produção que promovem preços de equilíbrio nas economias de mercado. Com isso, definiremos um equilíbrio global do comércio entre os países. Já no terceiro módulo, vamos analisar as principais consequências que esse equilíbrio global pode gerar nas economias, como o aumento da capacidade de consumo dos países. Com isso, você será apresentado aos aspectos introdutórios e às teorias clássicas de comércio internacional.
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MÓDULO 1
Reconhecer a história do pensamento econômico em comércio
internacional e os conceitos de vantagens absolutas e comparativas
Comércio internacional no pensamento econômico
Com a pacificação da Europa durante o final da Idade Média e o início da Idade Moderna (por volta do século XV), observamos uma expansão significativa do comércio internacional e, consequentemente, a necessidade de definição de políticas comerciais. Entre os séculos XV e XVIII, em particular, as políticas comerciais foram baseadas num conjunto de prescrições de política econômica que ficou conhecido como mercantilismo.
A essência do mercantilismo é a tentativa de obtenção sistemática de superavit comercial por meio de políticas colonialistas e protecionistas. A base dessa tentativa foi a crença de que a riqueza de uma nação seria medida pela quantidade dos bens que tivesse, especialmente metais preciosos.
Esse entendimento ficou conhecido como bulionismo, ou metalismo. Atualmente, a riqueza das nações é medida pela sua capacidade de produção de bens e não pelo seu estoque de mercadorias.
Nesse sentido, a extração de metais preciosos tenderia a tornar um país mais rico (bulionismo associado ao colonialismo), assim como a obtenção desses metais por meio do comércio, estimulando exportações (por meio de subsídios e tarifas baixas para matérias-primas que pudessem se tornar produtos exportáveis) e desestimulando importações (por meio de quotas e tarifas sobre bens de consumo). Pode-se dizer que o mercantilismo assume que o comércio internacional seja um jogo de soma zero:
Quem exporta, ganha
Quem importa, perde
No contexto histórico, esse raciocínio faz com que a política comercial e a política monetária estejam interconectadas. A obtenção de superavit comerciais seria essencial para aumentar a base monetária, uma vez que ela estaria relacionada à quantidade de metais preciosos disponíveis no país. Por outro lado, a obtenção de deficit comerciais reduziria essa base.
Tal pensamento tem claras limitações. Uma das primeiras foi apontada por David Hume, filósofo escocês do século XVIII. Em termos modernos, o pensamento de Hume pode ser traduzido da seguinte forma:
Base monetária
Refere-se ao volume de dinheiro criado pelo Banco Central - isto é, moeda (em papel ou metálica) e reservas bancárias em poder das entidades financeiras ou depositadas no Banco Central.
Fonte: Wikipédia
David Hume
David Hume (1711-1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico.
Fonte: Wikipédia
Diante de um aumento de suas exportações, o país exportador teria um excesso de base monetária, que seria traduzido num aumento do nível de preços de toda a economia (pois se diminui o preço relativo do metal precioso usado como moeda).
Esse aumento do nível de preços acabaria por estimular as importações e desestimular as exportações, de modo que a prática de obtenção de superavit comerciais sistemáticos e crescentes não seria sustentável. Nesse sentido, pode-se dizer que Hume defendia o livre-comércio e que eram os fatores reais (e não a quantidade de meios de pagamento) que determinariam a riqueza de uma nação.
Adam Smith foi um filósofo que reforçou as críticas de Hume. Para conhecer as suas ideias, assista ao vídeo a seguir.
Teoria das vantagens comparativas e modelo ricardiano
A teoria das vantagens comparativas, que é a base da teoria neoclássica de comércio internacional, promoveu o que é chamado de modelo ricardiano. Por exemplo, imaginemos dois países em que os custos de produção de dois tipos de bens (em horas de trabalho) sejam dados da seguinte forma:
Setor | País A | País B |
---|---|---|
Bem A | 10 horas | 20 horas |
Bem B | 4 horas | 5 horas |
É fácil ver que o país A tem vantagem absoluta na produção do bem A e do bem B: ele precisa de menos horas para produzir qualquer um dos bens. Portanto, uma estratégia comercial baseada somente em vantagens absolutas sugeriria que os países A e B não deveriam fazer comércio um com o outro.
Vamos supor agora que os países A e B disponham de 80 horas de trabalho, que são divididas igualmente entre a produção dos dois bens – ou seja, cada setor tem 40 horas de trabalho como insumo. Para saber quanto cada país vai produzir de cada bem, basta dividir 40 pelo número de horas necessário para cada um deles, dado anteriormente. Dessa forma, o equilíbrio de ambos em autarquia (países fechados, sem comércio) é:
Setor | País A | País B |
---|---|---|
Bem A | 4 | 2 |
Bem B | 10 | 8 |
Partindo dessa situação, os países A e B resolvem fazer trocas comerciais. E a seguinte sequência de eventos ocorre:
1
País B entrega 6 unidades do bem B para o país A ao preço de 2 unidades do bem A.
Como o país B importou o bem A, ele deixou de produzir duas unidades desse bem e foram liberadas 40 horas de produção, durante as quais o país B produziu mais 8 unidades do bem B.
2
3
Como o país A importou 6 unidades do bem B, ele deixou de produzir 5 unidades desse bem, liberando 20 horas de produção, durante as quais o país A produziu mais 2 unidades do bem A.
Ao final, as trocas alterariam a estrutura de produção dos países conforme podemos observar a seguir:
Setor | País A | País B |
---|---|---|
Bem A | 4 + 2 = 6 | 2 - 2 = 0 |
Bem B | 10 - 5 = 5 | 8 + 8 = 16 |
Comentário
Nota-se um aumento da especialização da produção global. O país B deixa de produzir o bem A, passando a produzir somente o B. Por sua vez, o país A aumenta a produção do bem A e reduz a produção do bem B.
O que ocorre com o consumo?
Para entender o que ocorre com o consumo, basta somar à produção de cada país a quantidade de bens importada por ele. Tal processo é feito a seguir:
Setor | País A | País B |
---|---|---|
Bem A | 6 - 2 = 4 | 0 + 2 = 2 |
Bem B | 5 + 6 = 11 | 16 - 6 = 10 |
Comentário
Nota-se, portanto, que o comércio entre esses países possibilitou que ambos aumentassem seu nível de consumo, com mais unidades do bem B disponíveis. Nesse sentido, a troca comercial possibilitou uma melhora de Pareto em ambas as economias.
O país A se concentrou na produção do bem A e o país B na produção do bem B. Seria possível explicar esse comportamento com base na tabela dos custos de produção de cada bem em cada país? Vejamos:
País A
A produção do bem A tem somente 2,5 vezes o custo da produção do bem B.
País B
A produção do bem A tem 4,0 vezes o custo da produção do bem B.
Dizemos então que o país A tem vantagem comparativa na produção do bem A e o país B tem vantagem comparativa na produção do bem B. Portanto, sair da situação de autarquia para uma situação de livre-comércio, em que as trocas de bens são possíveis, fez com que aumentasse a quantidade de bens disponíveis para consumo em ambos os países.
O aumento da quantidade de bens disponíveis para consumo faz com que aumente o bem-estar.
Vantagens comparativas e as vantagens absolutas
As vantagens comparativas, ao contrário das vantagens absolutas, levam em consideração os custos de oportunidade de produção das economias. Em outras palavras, leva-se em consideração o trade-off de produzir um ou outro bem na decisão de em quais mercados os recursos devem ser alocados. Enquanto a vantagem absoluta é a comparação do custo de produção de um bem entre diferentes países, a vantagem comparativa é a comparação do custo relativo de produção de um bem em relação a outro no mesmo país, para diferentes países.
Vamos nos aprofundar nesse conceito. Se a Inglaterra pode produzir, com todos os seus recursos, 10 metros de tecido ou 5 garrafas de vinho, pode-se dizer que o custo da produção das 5 garrafas de vinho são os 10 metros de tecido. Se, na França, pode-se produzir 10 metros de tecido ou 50 garrafas de vinho, é como se as 50 garrafas de vinho tivessem o custo dos mesmos 10 metros de tecido que, na Inglaterra, representariam somente 5 garrafas. Ou seja, em termos globais seria mais vantajoso produzir vinhos na França e tecidos na Inglaterra.
Nesse sentido, o comércio mundial tem o potencial de aumentar a capacidade global de produção de bens. Aumentando a capacidade de produção, aumenta-se também a disponibilidade de bens para consumo.
Evidentemente, existe diferença entre o comércio oferecer a possibilidade de aumentar o bem-estar e o comércio efetivamente aumentar o bem-estar.
Na prática, os equilíbrios competitivos são determinados por forças de mercado. A grande questão que fica, portanto, é em que circunstâncias esses ganhos potenciais do comércio global se traduzem em ganhos efetivos para as populações envolvidas.
Em outras palavras, precisamos determinar se os equilíbrios de mercado realmente convergem para a situação na qual o livre-comércio aumenta o bem-estar global na linha do que a especialização dos produtores em suas vantagens comparativas sugeriria.
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MÓDULO 2
Aplicar o conceito de vantagens absolutas e comparativas para a
determinação de um equilíbrio comercial
Fronteira de possibilidade de produção
No módulo anterior, discutimos as bases de comércio internacional e dos conceitos de vantagens absolutas e comparativas. A ideia deste módulo é aprofundar a compreensão desses conceitos por meio de aplicações. Vimos que países podem ter ganhos comerciais pela especialização na produção dos bens nos quais tenha vantagem comparativa em relação aos demais. Contudo, resta determinar quais são os níveis de comércio, consumo e produção que são resultados de equilíbrio das economias de mercado.
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Para fazer esse exercício, precisaremos construir modelos matemáticos para a produção dos nossos países. Nesses modelos, vamos considerar que a economia tenha um único fator de produção. Essa hipótese é relaxada em outros modelos de comércio internacional, mas, por ora, ela é bastante útil para a compreensão do fenômeno que estamos estudando.
O único fator de produção da nossa economia é o trabalho. Desse modo, a capacidade produtiva de cada economia na produção de cada bem pode ser medida pela produtividade do trabalho.
Voltemos ao nosso exemplo dos países A e B, cujos custos de produção dos bens A e B estão indicados a seguir:
Setor | País A | País B |
---|---|---|
Bem A | 10 horas | 20 horas |
Bem B | 4 horas | 5 horas |
Note que os números apresentados são justamente o inverso da produtividade dos países na produção de cada um dos tipos de bem. Ou seja, se a produção, no país A, de uma unidade do bem A leva 10 horas e a do B leva 4 horas, a produtividade do bem A é menor do que a do B (a produtividade na produção do bem A é 40% da produtividade na produção do bem B).
Atenção
Além da hipótese sobre a estrutura de produtividades, é importante considerar nessa análise que as dotações de fatores de produção dos países são sempre limitadas. Nesse sentido, a quantidade total de trabalho disponível nos países A e B é finita. Na prática, essa hipótese é bastante razoável. Afinal, todos os países têm populações limitadas e a quantidade de horas disponíveis para trabalho é finita.
De posse da tabela de produtividades e da quantidade de horas disponíveis para produção em cada país (digamos que sejam 80 horas em ambos), podemos construir a fronteira de possibilidades de produção (FPP) dessas economias. No nosso caso, a FPP é um gráfico de dois eixos, em que cada um representa a quantidade produzida de um bem. No país A, nossa FPP tem o formato do gráfico a seguir:
![](img/fpp1.png)
A linha azul representa uma combinação de quantidades de produção dos bens A e B que consome todas as 80 horas de produção disponíveis no país. A construção dessa curva é bastante simples. Vejamos:
Sabemos que a produção de cada unidade do bem A leva 10 horas.
Logo, se a economia do país A não produzir nada do bem B, o máximo que conseguirá produzir do bem A é 8 unidades. Esse é o ponto (0, 8) do gráfico.
Da mesma forma, temos que:
Se o país A produzir somente o bem B, para o qual uma unidade produzida requer 4 horas.
Sabemos que só será possível produzir 20 unidades. Esse é o ponto (20, 0) do gráfico.
Como as tecnologias de produção são lineares, a FPP é uma reta que passa por esses dois pontos. Todos os pontos entre a origem (ponto (0, 0)) e a reta azul são combinações de produção do bem A e do bem B factíveis para a economia do país A.
Atenção
Contudo, os pontos abaixo do segmento de reta estão subutilizando a quantidade de horas disponíveis para produção. Ou seja, estão desperdiçando recursos.
Para exercitar os conceitos, vamos construir também a fronteira de possibilidades de produção do país B.
![](img/fpp2.png)
Como no caso do país A, temos 80 horas disponíveis para produção. Como a produtividade do bem A no país B é 1/20, o máximo que conseguiremos produzir do bem A, aplicando todas as horas de produção disponíveis na confecção dele, são quatro unidades. Já do bem B, que tem produtividade 1/5, podemos produzir até 16 unidades. A reta azul representa a combinação de quantidades de produção dos bens A e B que esgota a quantidade de horas de produção disponíveis no país B.
Atenção
É interessante notar que a inclinação da fronteira de possibilidades de produção é exatamente o custo de oportunidade do bem B em termos do bem A. Ou seja, quanto o aumento da produção do bem B em uma unidade reduz a quantidade que se pode produzir do bem A.
Sempre que a fronteira de possibilidades de produção for uma linha reta, o custo de oportunidade da produção de um bem em detrimento do outro será constante. Sendo a produção do bem no país , as nossas possibilidades de produção podem ser escritas segundo as inequações a seguir:
As linhas azuis dos dois gráficos, que são as fronteiras das nossas possibilidades de produção, podem ser expressas pelas duas equações a seguir:
Para sair do universo das possibilidades de produção para uma discussão sobre os níveis de produção estabelecidos pelo mercado, é necessário incluir uma análise dos preços relativos desses bens.
![Fonte: Tendo / Shutterstock](./img/imagem_full3.jpg)
Preços e equilíbrio
Numa economia perfeitamente competitiva com somente um fator de produção, os salários de cada um dos setores serão exatamente o produto marginal do trabalho. Portanto, sendo o preço do bem e sendo o salário do setor que produz o bem no país , sabemos que são válidas as igualdades expressas a seguir:
Sabemos que o país A se especializará na produção do bem A caso . Da mesma forma, o país A se especializará na produção do bem B caso . Se , ambos os bens serão produzidos. Usando as identidades anteriores, sabemos que a economia do país A se especializará na produção do bem A caso . Ou seja, caso . Em outras palavras, a economia do país A se especializará no bem A caso o preço relativo do bem A seja superior ao diferencial de produtividades entre o bem A e o bem B.
Alternativamente, pode-se dizer que a economia do país A se especializará na produção do bem A caso o custo de oportunidade da produção do bem A, em relação ao bem B, seja inferior ao preço relativo do bem A, em relação ao bem B.
No vídeo a seguir, vamos reforçar esses conceitos.
Vamos considerar inicialmente uma situação sem comércio. A economia precisa produzir ambos os bens. Logo, sem comércio precisamos ter , para evitar especialização em apenas um setor. Consequentemente, os preços relativos serão reflexo exato do diferencial de produtividade entre os setores da atividade econômica. Repetindo a análise de salários para o país B, temos as igualdades a seguir:
Novamente, se , o país B se especializará na produção do bem A. Se , o país B se especializará na produção do bem B. Se , ambos os bens serão produzidos. Traduzindo essas relações em preços relativos, o país B se especializará na produção do bem A se , o que implicará .
Para prosseguir com essa análise, construiremos uma curva de oferta relativa, que relaciona como a quantidade relativa de produção de cada um dos bens (a soma da produção do bem A nos dois países dividida pela soma da produção do B nos dois países) está associada ao preço relativo de ambos os bens (preço do bem A dividido pelo do B).
A curva de oferta relativa deve ser positivamente inclinada. Para construí-la, vamos analisar cinco cenários de preço relativo, construídos a partir da análise realizada sobre a especialização de cada uma das economias. Veja a seguir:
Caso , nenhum dos dois países produzirá o bem A, cuja oferta será zero. Assim, ambos os países ofertarão o bem B no máximo das suas capacidades produtivas. A oferta do bem A em relação ao B será zero.
Caso , o país A produzirá tanto o bem A como o B. Portanto, a quantidade total disponível do bem A poderá variar de zero até 8 unidades, que é o máximo que o país A consegue produzir. O país B estará totalmente especializado na produção do bem B, de modo que ele fabricará 16 unidades. Ou seja, a oferta do bem A em relação ao B variará de zero a .
Caso , o país A se especializará totalmente na produção do bem A, mas o país B não produzirá nenhuma unidade de A. Então, a oferta do bem A em relação ao B será sempre 0,5.
Se , o país A se especializará na produção do bem A e o país B poderá produzir os bens A e B. Nesse caso, a oferta do bem A em relação ao B pode ser de 0,5 a infinito.
Se , não haverá produção do bem B em nenhum dos países; todos os recursos serão alocados para a produção do bem A. Logo, a oferta do bem A em relação ao B será infinita.
A partir dessa análise, é possível construir uma curva para a oferta relativa (RS) do bem A em relação ao B na economia global.
![](img/curva_rs.png)
Na curva, é possível ver que não haveria nenhuma oferta do bem A caso seu preço relativo fosse inferior a 2,5. O equilíbrio de preços relativos e quantidades produzidas ocorre na interseção entre as curvas de oferta e demanda. Nesse caso, portanto, resta determinar uma curva de demanda relativa (RD) para definir em que ponto a economia global se equilibrará nessas condições. A curva de demanda relativa pode ser construída tomando por base o efeito substituição:
Aumentos no preço relativo do bem A tendem a fazer com que os consumidores demandem mais unidades do bem B em relação ao bem A.
Logo, a curva RD é negativamente inclinada. Ambas as curvas (RS e RD) estão expressas no gráfico a seguir.
![](img/curva_rs_rd1.png)
Para essa composição de curvas, percebe-se que o equilíbrio de mercado ocorre com um preço relativo de 2,5 e uma quantidade relativa produzida de cada bem por volta de 0,3. Nesse ponto, o país B está totalmente especializado na produção do bem B e o país A produz ambos os bens. Diante de um choque de demanda, nossa curva RD poderia se deslocar para RD’. Nesse caso, poderíamos obter o equilíbrio do gráfico a seguir.
![](img/curva_rs_rd2.png)
Percebe-se, agora, que o equilíbrio passa a ocorrer por volta do preço relativo 3, com a quantidade relativa de equilíbrio em 0,5. Nessa situação, o país A está totalmente especializado em produzir o bem A e o país B totalmente especializado na produção do bem B.
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MÓDULO 3
Descrever os equilíbrios de comércio no modelo ricardiano
Fronteiras de possibilidade de produção e consumo
No módulo anterior, definimos um equilíbrio global com comércio entre dois países. Neste módulo, vamos explorar as consequências econômicas desse equilíbrio, assim como desmistificar alguns dos principais equívocos do debate público sobre as vantagens comparativas e o comércio internacional.
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Um dos principais ganhos de comércio é o aumento da capacidade de consumo dos países envolvidos. Nesse caso, o comércio faz com que as possibilidades de consumo estejam fora das fronteiras de possibilidades de produção dos países envolvidos. Voltando ao nosso caso dos países A e B, sabemos que o comércio pode levar o país A à especialização na produção do bem A e o país B a se especializar na produção do bem B. Ao calcular as possibilidades de consumo de ambos os países nesse cenário, temos uma situação parecida com a dos gráficos colocados a seguir.
![](img/paisA.png)
![](img/paisB.png)
Ambos os gráficos mostram claramente como o comércio pode expandir as possibilidades de consumo. O país A, ao se especializar na produção do bem A, pode expandir suas possibilidades de consumo do bem B e o mesmo ocorre com o país B. Um dos pontos que comumente se levanta na discussão de comércio internacional é o diferencial de salário entre os países. As consequências distributivas do livre-comércio serão objeto de abordagem em outro momento, mas o que foi desenvolvido até aqui já permite construir uma base para essa discussão.
Nos mercados competitivos cuja produção demanda somente um fator, o salário é a produtividade marginal do trabalho. Nesse sentido, como a especialização das economias causada pelo comércio internacional faz com que cada país se especialize na produção dos bens para os quais têm maior produtividade relativa, pode-se dizer que o comércio internacional tende a melhorar a situação dos trabalhadores, sejam de países importadores ou exportadores, independentemente do nível de salários da economia estrangeira.
No arcabouço teórico que estamos explorando, os salários maiores ou menores são muito mais função de uma produtividade maior ou menor da economia do que um efeito do comércio internacional.
Generalização para mais de dois bens
Você deve ter percebido que toda a análise foi construída sobre economias que produzem somente dois bens. Contudo, no mundo real, essa hipótese é muito simplista. Ainda que esse arcabouço seja bastante útil para que possamos entender os principais fenômenos do comércio internacional, é importante generalizarmos a análise anterior para mostrar que os resultados obtidos também são válidos para economias que produzem mais de dois bens.
Permaneceremos com dois países e somente um fator de produção em cada país. Contudo, em vez de cada país produzir somente dois bens, cada país produz bens. Tomaremos por a quantidade de horas requeridas no país para a produção do bem ( é o inverso da produtividade). Sem perda de generalidade, ordenaremos os bens de modo a respeitar a desigualdade a seguir para todo .
A seguir, fornecemos um exemplo com os requisitos de produção de quatro bens nos nossos dois países.
Bem | País A | País B | Razão (A/B) |
---|---|---|---|
Bem 1 | 1 | 10 | 1/10 |
Bem 2 | 2 | 8 | 1/4 |
Bem 3 | 4 | 4 | 1 |
Bem 4 | 8 | 2 | 4 |
Considerando que cada economia paga um salário fixo para o trabalho em todos os setores, temos o salário no país A () e o salário no país B (). A especialização da produção entre os países A e B dependerá, nesse modelo, de em qual país a produção dos bens é mais barata. A produção do bem será mais barata no país A caso a desigualdade a seguir esteja satisfeita.
Manipulando essa desigualdade, obtemos:
Alternativamente, a produção do bem será mais barata no país B caso a desigualdade a seguir esteja satisfeita.
Percebe-se, portanto, que a determinação de quais países produzirão quais tipos de bens depende de uma comparação da taxa de salários com os diferenciais de produtividade de cada setor em cada país . Como os valores de i estão indexados na fração , pode-se dizer que há um valor que representa o maior valor de para o qual vale a desigualdade a seguir:
Tomando a razão de salários como dada, os bens de 1 a seriam produzidos no país A e os bens a seriam produzidos no país B. Porém, a produção de bens distribuída por país depende da quantidade de mão de obra disponível em cada um deles.
Como resolver esse problema?
Para resolver, podemos ajustar a taxa de salários de modo a considerar os diferenciais de população nos dois países. Em outras palavras, pode-se construir um equilíbrio de mercado em que são respeitados a quantidade de mão de obra disponível em cada país e os incentivos à distribuição da produção dos bens entre os países.
Nesse equilíbrio, teremos como resultado a razão de salários da nossa economia (e não precisaremos tomá-la por dada, como fizemos até agora).
Como estamos falando de um equilíbrio do mercado de trabalho, que determina uma taxa de salários, precisamos de uma curva que represente a demanda por trabalho e outra que represente a oferta por trabalho. Afinal, determinar mais uma variável (taxa de salários) requer a inclusão de mais uma equação em nosso sistema (demanda por trabalho igual à oferta por trabalho). Oferta e demanda serão, como no caso anterior, curvas de oferta e demanda relativas.
A oferta relativa por trabalho é razoavelmente simples de ser determinada. Supondo que a razão de salários não altere a oferta de trabalho nas duas economias, a quantidade de horas de trabalho disponíveis em cada país será, basicamente, uma função da sua população. Dessa forma, a curva de oferta relativa de trabalho (RS) é vertical, pois não depende dos salários. Resta-nos determinar a curva de demanda relativa por trabalho (RD). Ela será construída a partir de cenários que levam em conta a produtividade dos países na produção de cada um dos quatro tipos de bem. Vejamos:
Se a razão de salários for superior a 4, não compensa produzir nenhum bem no país A. Logo, a quantidade relativa de mão de obra demandada é zero.
Se a razão de salários for igual a 4, somente o bem 4 será produzido no país A. Contudo, ele também será produzido no país B. Desse modo, a quantidade de mão de obra demandada será equivalente à capacidade de absorção da produção do bem 4 em todo o mundo, menos a produção do bem 4 feita pelo país B.
Se a razão de salários estiver estritamente entre 4 e 1, somente o país A produzirá o bem 4, e a quantidade de mão de obra demandada para essa produção será equivalente à capacidade de absorção da produção do bem 4 em todo o mundo.
Se a razão de salários for 1, somente o país A produzirá o bem 4, mas o país A e o país B poderão produzir o bem 3. Novamente, a demanda por mão de obra no país A será a capacidade de absorção internacional da produção dos bens 3 e 4, menos a quantidade do bem 3 produzida pelo país B.
Se a razão de salários estiver estritamente entre 1 e , o país A se especializará na produção dos bens 3 e 4. Nesse caso, sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses dois bens.
Se a razão de salários for , o país A se especializará na produção dos bens 3 e 4, mas também poderá produzir o bem 2. Assim, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses três bens, menos a quantidade do bem 2 produzida pelo país B.
Se a razão de salários estiver estritamente entre e , o país A se especializará na produção dos bens 2, 3 e 4. Portanto, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses três bens.
Se a razão de salários for , o país A se especializará na produção dos bens 2, 3 e 4, e poderá também produzir o bem 1. Então, a sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses quatro bens, menos a quantidade do bem 1 produzida pelo país B.
Se a razão de salários for estritamente menor que , o país A se especializará na produção de todos os bens. Nesse caso, sua demanda por mão de obra será equivalente à capacidade de absorção global da produção desses quatro bens.
Portanto, a demanda relativa por mão de obra é decrescente na razão de salários: quanto mais a razão de salários diminui, mais a demanda por mão de obra aumenta. O resultado pode ser resumido no gráfico a seguir:
![](img/grafico.png)
Pelo resultado do gráfico, teríamos uma razão de salários entre as economias de 1,0, com o país A produzindo o bem 4 e o bem 3, e o país B produzindo os bens 1, 2 e 3.
Para saber mais sobre a relação de custos e a comercialização de bens, assista ao vídeo a seguir.
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Conclusão
Considerações Finais
Neste tema, introduzimos as principais teorias do comércio internacional e traçamos um panorama histórico de sua evolução. Ao apresentarmos conceitos de vantagem comparativa e absoluta, pudemos perceber como países podem se beneficiar com o comércio internacional. Vimos também que, a partir do comércio internacional, economias alcançam um equilíbrio global com certos níveis de consumo e produção.
Ao final, apresentamos as consequências desse equilíbrio global na economia e esclarecemos equívocos do debate público em relação ao comércio internacional. Assim, temos certeza que você poderá consolidar seus conhecimentos sobre o assunto.
Podcast
Agora, o professor Livio Ribeiro encerra o tema falando sobre as teorias clássicas do comércio internacional.
CONQUISTAS
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